Nas mãos dele, a decisão

'Fazer Justiça? Não tenho essa pretensão', afirma juiz responsável pelo processo criminal da Kiss

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Do homem que conduz o processo sobre a maior tragédia gaúcha, as famílias das vítimas, os sobreviventes, os réus e toda a comunidade esperam Justiça. Nas mãos do juiz da 1ª Vara Criminal de Santa Maria, Ulysses Fonseca Louzada, que conduz o processo sobre o incêndio na boate Kiss, estão os destinos de sete do total de 15 réus. Outros oito respondem nas esferas militar e cível. Outro, que seria o 16º, fez acordo e teve o processo suspenso.

Em entrevista ao Diário, no último dia 9, o magistrado disse que vai tomar uma decisão técnica. Ele não quis entrar nos detalhes do caso, mas disse que quer acompanhar todos os atos processuais para que nada fuja ao alcance dos seus olhos.

Louzada ingressou para carreira no judiciário em 1990. Ele conta que, desde então, trabalhou em varas com demandas que denominou "de muito sofrimento" e que não diferencia o processo da Kiss dos demais:

_ Este processo é muito complexo porque envolve mais de 870 vítimas, entre fatais e não fatais, e que teve uma repercussão bastante grande. Só que, além deste, existem mais 2,7 mil processos na vara, que talvez, juntos, tenham mais de 4 a 5 mil vítimas e que merecem a mesma importância.

O magistrado lembra da época que começou a carreira, em Pelotas:
_ Não tinha assessor, computador, estagiário. Trabalhava com máquina de escrever. Era uma vara com júri, execuções e processos menores. Trabalhava de noite a noite. Começava de madrugada e ia até à noite, muitas vezes, sem ver a luz do dia. Às vezes, fazia intervalo no júri para realizar uma audiência.

Depois, Louzada assumiu a 1ª Vara Criminal de Rio Grande e passou pelas comarcas de Santo Augusto, Campo Novo, Coronel Bicaco, Santa Vitória e Canguçú até chegar a Santa Maria, em 1995.
Louzada nasceu em Rio Grande, onde fez faculdade e atuou como professor e advogado. Atualmente, dá aulas para o curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). É divorciado e pai de quatro filhos.

ENTREVISTA

Ulysses Fonseca Louzada, 56 anos, juiz que conduz o processo sobre a maior tragédia gaúcha, o incêndio na boate Kiss

'Fazer Justiça? Não tenho essa pretensão'

Diário de Santa Maria _ As pessoas o veem como o homem da Justiça neste caso. De que forma o senhor se vê?
Ulysses Fonseca Louzada _ Fazer Justiça? Não tenho essa pretensão. A minha pretensão é reproduzir uma certeza do processo com base na lei e nos conhecimentos que tenho. Não tenho pretensão de achar que sou o dono do mundo. Tanto que existem recursos... Quero conduzir o processo de forma célere, bastante efetiva, sem atropelar, mas também fazendo com que ele caminhe. Afinal, o sentido terminológico da palavra processo é exatamente este: seguir em frente.

Diário _ O processo da Kiss mudou a sua vida? Em quê?
Louzada _ Todos me dizem: não queria estar no teu lugar. Não penso assim. Acho que eu passei tanta coisa que, se esse processo veio para cá, é porque eu tenho de enfrentá-lo e resolvê-lo, como tenho resolvido todos os outros que chegaram à 1ª Vara Criminal. Toda minha vida profissional foi muito intensa, e sempre tentei enfrentar da forma mais tranquila, do jeito que entendia mais correto. É isso que tenho feito neste processo.

Diário _ Como o senhor consegue tratar a maior tragédia do Estado de forma igual?
Louzada _ O caso da Kiss é muito importante, mas não posso criar uma hierarquia entre os processos, porque as vítimas e os réus dos outros casos também querem uma resposta. Para cada um, o seu processo é o mais importante. As pessoas me olham como se eu tivesse um único processo. Eu entendo, mas, antes do recesso (de final de ano), em apenas uma semana, fiz 140 audiências.

Diário _ O senhor foi a outras cidades ouvir vítimas da tragédia. Por quê?
Louzada _ Quero poder participar de todos os atos processuais, que nada "

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